Produtores do Acre apostam na ovinocultura.

Na comparação com a carne bovina, a de cordeiro apresenta vantagens. Menos calorias e mais proteínas a cada 100 gramas de carne. Ocupa menos espaço, permite maior lucratividade por área ocupada. Valorizada, saborosa e suave, o produto tem mercado garantido, há demanda sobrando. Além disso, é um animal que não exige grandes cuidados e que diversifica a produção familiar. Por isso tem ganhado espaço nas pastagens do Acre. De fato, a produção de carne de cordeiro é uma das apostas do Governo Tião Viana para o setor produtivo e o incentivo à atividade significa um investimento de R$ 2,5 milhões, beneficiando 660 famílias.

O Governo do Estado, através da Secretaria de Agricultura e Pecuária (Seap), entregou o primeiro lote de carneiros para os produtores do município de Brasileia. Trinta famílias foram beneficiadas com 12 fêmeas da raça Santa Inês e um macho da raça Dorper. É um bom começo. O Secretário Mauro Ribeiro explica que o Santa Inês já está bem adaptado ao clima e às pastagens e o cruzamento com o Dorper garante precocidade e carne abundante.

Antes, o Governo já distribuíra ovinos em Capixaba, também para 30 famílias.

Cada produtor, escolhido para o programa, através das associações de produtores, compromete-se a construir um aprisco adequado para os animais, fazer um curso de orientações sobre o manejo do rebanho e devolver, dentro de dois anos, a mesma quantidade de animais que recebeu.

A prefeita Leila Galvão dá o tom: “O governador tem uma visão aguçada para o setor produtivo. Quem diz que o Acre não produz está enganado. Estamos vivendo hoje ações que foram gestadas lá atrás. São várias cadeias produtivas que estão sendo desenvolvidas e aqui em Brasileia temos o frango, o peixe, e agora os carneiros”.

Carneiro verde

Animal gosta de recebem um “bom dia” e um “boa-tarde”, diz o veterinário da Seap, Alan Palu. “O carneiro exige cuidados mínimos: remédios se adoecer, vermífugos para prevenir doenças e pasto para se alimentar. No Acre nós temos praticamente um carneiro verde, criado livre, se alimentando exclusivamente de pastagem”, explica. “Não há segredos, pois o produtor já sabe como criar animais”.

Em cada hectare de pasto de boa qualidade são criados de 15 a 20 animais. A gestação é rápida, de cinco meses, e com oito meses de vida o carneiro está pronto para o abate. Hoje o preço pago pelo quilo é R$ 6 a fêmea e R$ 7 o macho, que tem a carne mais valorizada.

Alguns produtores já vendem car­neiros para a Bolívia e o Peru, embora não seja de forma contínua. “Sempre tem quem compre e o preço não é ruim. Agora a nossa melhor solução é reunir os produtores, formar um lote grande e vender diretamente para o frigorífico de Rio ­Branco (Anassara), que vem buscar na porteira”, diz um criador.

Vou ser grande produtor

Samuel de Souza mantinha poucas cabeças de gado no pequeno pasto do ramal Cajazeira, em Capixaba. Nos roçados, cultivava macaxeira, milho, feijão e ia tocando a propriedade com a ajuda da família. Resolveu apostar na criação de ovelhas mesmo sem nunca ter lidado com os animais e já faz planos de ser um grande produtor, comprando mais 10 animais para acelerar o crescimento do rebanho.

Já faz um ano que Samuel recebeu seu lote de ovelhas. As 12 fêmeas pariram 16 filhotes.

“Vendi quatro animais pra poder construir o aprisco. As ovelhas pagaram a própria casa. É um investimento. Agora a produção pode aumentar que tem espaço. Depois a gente aumenta de novo”, disse o produtor.

Em um ano lidando com os animais, o produtor já aprendeu algumas características do bicho. Lições que o dia a dia ensinou ao pastor das ovelhas: “Elas pelaram muito”, disse. Isso quer dizer que “sofreram com o sol bravo”. É a fotossensibilização à braquiária. Aprendeu a lição, mudou o capim. Agora plantou grama Estrela, Pue­rária e Humidícola. Também aprendeu as vantagens das ovelhas em pequenos pastos onde o gado não vai, e em maior quantidade.

Carneiro na merenda escolar

Já são 4.000 kg por mês, ou R$ 119,6 mil investidos todo mês, 170 escolas beneficiadas: o carneiro já faz parte do cardápio da merenda escolar na rede pública de ensino. Duas vezes por mês a carne é servida para diversificar a alimentação e oferecer proteína para as crianças. A compra é feita através do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). A carne de suíno também entrou na merenda escolar e, em breve, o peixe fará parte da alimentação dos estudantes. Cordeiro na merenda é muito bom.

Até hoje, o Acre já investiu R$ 2,5 milhões em 8.000 ovinos, nesta primeira etapa em que foram beneficiados 660 produtores. O Governo gostou e pretende ampliar, comprando mais 12.000 ovinos. Com 20.000 ovinos, o Governo acha que os produtores poderão levar adiante a criação, por conta própria.

Dificuldades

A Assistência Técnica é sempre o principal problema, devido à grande umidade amazônica, mas os acreanos contam com muitos criadores no vizinho Estado da Rondônia, onde há muitos criadores antigos, com experiência. Lázaro José da Silva, de Extrema de Rondônia, diz que “o Acre está de parabéns, pois mudou da água para o vinho, com a administração dos irmãos Viana”.

O importante foi feito: dar esperança e começar com o pé no chão!

Revista O Berro nº 156 – foto: Angela Peres – Agência de Notícia do Acre

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