Sustentabilidade em ecossistemas de pastagem

As áreas de pastagem ocupam mais de 32 milhões de km2 no mundo inteiro, sendo o principal uso dado a terra em nosso planeta. No Brasil, cerca de 150 milhões de hectares são ocupados com esse tipo de vegetação. As pastagens são a principal fonte de alimento volumoso para os animais nos trópicos, tanto que, estima-se que metade do que é produzido em carne e leite seja proveniente de animais criados em áreas de pastagem.

Até bem pouco tempo, o uso do pasto cultivado era restrito a sistemas de produção de carne, principalmente bovina. Com a expansão da ovinocultura para as regiões Norte e Centro-oeste, tradicionalmente produtoras de carne em pastagens, esse recurso tem sido amplamente utilizado também por produtores de ovinos. Em termos de produção de leite, sistemas de produção semi-intensivos ou com baixo input de concentrado já são bem conhecidos dos produtores de leite de vaca em várias regiões do país. Para produção de leite de cabra, no entanto, o sistema mais conhecido e utilizado por grandes produtores é o confinamento. Novas experiências com o uso de pastagem cultivada como base para alimentação podem também representar um novo modelo de produção.

Diante da importância que as pastagens desempenham para a maioria dos modelos de produção praticados, é fundamental que seu uso esteja condicionado a práticas sustentáveis de manejo, como adubação, introdução de leguminosas, ajuste da taxa de lotação, entre outras, a fim de que a produtividade seja mantida ao longo do tempo, sem comprometer os componentes principais do ecossistema. Nos dias atuais, em que cada vez mais a preocupação com o meio ambiente é de extrema importância para a sobrevivência do planeta, o uso de pastagens para a manutenção de altos estoques de carbono na biomassa e no solo pode contribuir para a melhoria do clima. Já se sabe que, em solos bem manejados sob ecossistemas de pastagem, é possível encontrar grandes estoques de carbono (0,5 Mg C ha-1 ano-1), em quantidades semelhantes ao encontrado em solos sob florestas tropicais (até 0,8 Mg C ha-1 ano-1). A capacidade de estocar carbono dos solos sob pastagem é determinada principalmente pela manutenção e renovação do sistema radicular e também pelo aporte de liteira proveniente de material em decomposição, que fornecem substrato para a mineralização da matéria orgânica, com a formação de agregados e húmus, que são os componentes básicos para que o carbono seja estocado no solo.

Além disso, a possibilidade de introduzir árvores fixadoras de nitrogênio permite reduzir a entrada de fertilizantes no sistema, pois, dependendo da espécie, até 150kg de nitrogênio por hectare por ano podem ser incorporado ao sistema. Essa quantidade de nitrogênio supera em muito a média atual de aplicação de fertilizantes em áreas de pastagem, que é em torno de 10kg/ha ano, o que tem em muito contribuído para a degradação de áreas de pastagem no Brasil. As árvores também contribuem para melhorar o clima na área do pasto e proporcionar um melhor bem estar para os animais.

 A oferta de forragem de qualidade contribui para reduzir a emissão de gases do efeito estufa, especialmente o metano, por animais ruminantes em pastejo. A produção de metano é maior quanto mais fibra for ofertada e consumida pelos animais em pastejo. A produção de forragem de boa qualidade, ou seja, com baixo teor de fibra e alta densidade energética e protéica, pode ser obtida com práticas simples de manejo do pastejo, onde a estrutura do mesmo forneça ao animal mais folhas verdes, menos colmos e pouco material morto.

O tipo ideal de forragem pode ser obtido manejando-se o pasto tanto em sistema contínuo quanto no rotativo. É mais comum observar manejo em sistema rotativo. Esse sistema tem a vantagem de permitir um período de descanso para que a planta recupere sua área foliar, produzindo forragem. É importante que o resíduo que compõe o pasto, após o pastejo, tenha folhas verdes jovens e haja pouco material como colmo e material morto. Esse resíduo pode ser medido através da altura do pasto. Para gramíneas cespitosas em torno de 20-30 cm e para estoloníferas por volta de 10 cm.

O intervalo de descanso deve ter o comprimento de tempo suficiente para o crescimento de folhas, que são o principal alimento do animal no pasto, sendo mínima a senescência (a morte de folhas). Para determinar o momento ideal do pastejo, uma variável muito interessante que vem sendo utilizada é a contagem do número de folhas produzidas por perfilho (uma planta de capim -, Figura 2) durante o intervalo de descanso. Por exemplo, para o capim Tanzânia, o intervalo ideal de pastejo é o tempo necessário para a formação de 2,5 folhas, ou seja, quando o perfilho produziu duas folhas e tem uma terceira em crescimento. Em capim-tifton 85 esse número é em torno de seis folhas.

Manejos utilizando as ferramentas anteriormente citadas têm permitido ganhos em carne ovina de até 240g/cab sob condições de pastejo, bem como produções de leite de cabra de até 1,5kg/cab. Sendo que se pode manter até 40 cordeiros em terminação e por volta de 35 cabras em lactação, em um hectare de pastagem.

Percebe-se que existem opções tecnológicas que podem ser utilizadas a fim de que haja maior sustentabilidade no uso de pastagens para a produção animal. O uso adequado dessas técnicas permite aumentar os estoques de carbono e nitrogênio nos sistemas de pastejo, reduzindo ainda a emissão de gases e maximizando o desempenho animal, com mínimo de impacto negativo sobre o ecossistema de pastagem.

Ana Clara Rodrigues Cavalcante
* Zootecnista, doutoranda em Ciência Animal e Pastagens. 
Atualmente é pesquisadora da Embrapa Caprinos e Ovinos