Alimentação dos ovinos

Tudo entra pela boca: saúde, vigor, doenças, lucros e prejuízos e, então, é preciso estar sempre de olho aberto para o que desce pela garganta dos animais.

l Sempre mascando – Ovelhas pertencem à classificação de animais ruminantes. Ruminantes são caracterizados por “quatro” estômagos e comportamento “ruminar-mascar”. A ruminação é um bolo alimentar que foi regurgitado.

l Ruminantes – Há cerca de 150 diferentes espécies de ruminantes domésticos e selvagens, incluindo vacas, cabras, veados, búfalos, bisontes, girafas, alces e renas. Ruminantes são ainda classificados pelo comportamento de forragem: herbívoros, pastadores, ou herbívoros intermediários. Herbívoros, como bovinos, consomem principalmente gramíneas de qualidade inferior, enquanto pastadores como o alce e os veados ficam na mata e comem galhos e arbustos altamente nutritivos. Intermediários, como ovelhas, cabras e veados de rabo branco, tem requisitos nutricionais que estão entre os herbívoros e pastadores. Ovelhas, deste grupo, são mais herbívoras, enquanto cabras e cervos são pastadores.

A principal diferença entre os ruminantes e os animais de um único estômago (chamados monogástricos), tais como as pessoas, cães, e porcos, é a presença de um estômago com quatro compartimentos. As quatro partes são o rúmen, retículo, omaso e abomaso. Dizem, muitas vezes, que os ruminantes têm quatro estômagos. O seu “estômago” tem quatro partes na realidade.

l Pseudo-ruminantes – Camelídeos (lhamas e alpacas) são chamados de “pseudo-ruminantes”, porque têm um estômago de três compartimentos, em vez de quatro. Os cavalos não são ruminantes, pois eles têm um ceco alargado, que lhes permite digerir os materiais fibrosos. Os animais deste tipo são chamados de “intestino fermentador”. Um coelho tem um sistema digestivo semelhante.

l O sistema digestivo do rúmen – O rúmen ocupa uma grande porcentagem da cavidade abdominal do ruminante. É um grande espaço de armazenamento para o alimento que é rapidamente consumido e, depois, regurgitado, remastigado e ingerido novamente em um processo chamado de ruminação-mastigação. A ruminação ocorre, primeiramente, quando o animal está em repouso e não come. Ovelhas adultas saudáveis vão mastigar sua ruminação durante várias horas cada dia.

O rúmen é também uma cuba de fermentação de grande porte. Ele contém bilhões de micro-organismos, incluindo bactéria e protozoário, que permite aos ruminantes digerir alimentos fibrosos, como capim, feno e silagem que outros animais não podem utilizar eficientemente. Fermentação no rúmen produz enormes quantidades de gás que os ruminantes livram-se através da eructação (arroto). Qualquer coisa que interfira os arrotos é fatal para o ruminante e pode resultar em inchaço. Os casos leves geralmente podem ser tratados, com sucesso, com antiácido.

O retículo está intimamente associado com o rúmen. O conteúdo mistura-se continuamente entre as duas cavidades. O retículo parece um “pente de mel”. A atividade digestiva ocorre no omaso. Ele contém muitas camadas de tecido. O abomaso é o estômago “verdadeiro” do ruminante. Ele tem uma função similar à do estômago de um não- ruminante: secreção de enzimas e ácidos para quebrar os nutrientes.

l Ruminantes Jovens – O rúmen e retículo do cordeiro, ao nascer, ainda não são funcionais. Estes dois compartimentos começam a multiplicar micro-organismos quando os cordeiros começam a beliscar alimentos secos.

Os micróbios, à medida que se multiplicam e começam a digerir os alimentos, estimulam o crescimento e desenvolvimento do rúmen e do retículo. Estes últimos tornam-se, geralmente, funcionais quando o cordeiro atinge 50 a 60 dias de idade.

A alimentação suplementar deve ser de nutrição rápida, pois precisa ser altamente digerível, já que os cordeiros não nascem com o funcionamento do rúmen. Rações adequadas consistem em alimentos que foram triturados, enrolados, ou sedimentados. Isso melhora o desenvolvimento do rúmen deste animal.

l Pasto por princípio – A dieta mais natural é a forrageira (capim, ervas daninhas, pasto, feno e silagem), apesar dos ruminantes conseguirem digerir grãos (amidos). Uma grande quantidade de ácido láctico é produzida no rúmen e o pH fica baixo, se o ruminante consumir muito grão ao mesmo tempo. Esta pode ser uma doença fatal para o ruminante. O grão deve ser introduzido lentamente na dieta para dar tempo de ajuste ao rúmen.

l Não muito grão – As ovelhas “amam” o sabor dos grãos. É como “doce” para elas. Elas vão comer demais se o consumo de grãos não for regulado. O grão pode ser suplemento e em alguns casos substituir a forragem na dieta se for introduzido lentamente. Grão integral é melhor para ovelhas porque exige que elas façam sua própria moagem. Problemas na digestão são menos comuns em grãos integrais comparados aos processados (triturados, rachados, ou moídos).

Algumas forragens devem ser consumidas sempre por ruminantes, para manter o funcionamento do rúmen corretamente e manter os animais satisfeitos.

l Gases de efeito estufa – Um dos impactos globais da criação do rebanho ruminante é que quando os ruminantes arrotam, eles produzem metano, um dos gases de efeito estufa. Uma pequena quantidade de metano também é produzida pelo estrume. Os cientistas estão atualmente estudando formas de reduzir a produção de metano dos ruminantes. Sabe-se, por exemplo, que os animais alimentados com certas plantas produzem menos metano. Cientistas australianos estão testando uma vacina para reduzir a produção de metano. Impor um imposto sobre o “pum” tem sido proposto para ajudar a financiar as pesquisas, mas não foi implementado.

Casos de efeito estufa são responsáveis para contribuir para o aquecimento global. A maior fonte de gases de efeito estufa, de longe, é dos combustíveis fósseis.

l Grama, trevos e herbáceas – A maioria das ovelhas come grama, trevos, herbáceas e outras plantas do pasto. Elas apreciam principalmente as plantas herbáceas. É, geralmente, a primeira escolha de comida. É uma planta de folhas largas diferente da grama e também com flores muito nutritivas. Ovinos comem uma variedade de plantas e seleciona mais os nutrientes em sua dieta em comparação com os bovinos, mas muito menos que as cabras.

l O tempo de pastejo – Ovelhas pastam em média sete horas por dia, principalmente de madrugada e no final da tarde, perto do por-do-sol. Quando os suplementos são introduzidos, o melhor é alimentá-los no meio do dia, para que os padrões normais de pastagem não sejam interrompidos.

l As plantas diferentes – Ovelhas em áreas geográficas diferentes comem também plantas diferentes. Forrageiras tropicais geralmente não são tão nutritivas como aquelas que crescem em climas temperados. Proteína é, frequentemente, o nutriente mais determinante em forragens. Todas as forrageiras são mais nutritivas se forem ingeridas em estado vegetativo.

l Requisitos de pasto – A quantidade de pastagens, ou o intervalo que é preciso para alimentar uma ovelha, depende da qualidade da terra (solo), a quantidade e distribuição das chuvas, e a gestão do pasto. Um hectare de pasto ou pastagens, em climas secos, não pode alimentar muitas ovelhas como um hectare em clima úmido. Um hectare de pasto na estação chuvosa (primavera e outono) pode, obviamente, alimentar mais ovelhas do que um hectare na estação seca (geralmente no verão).

As taxas de reprodução e taxas de crescimento dos carneiros e ovelhas são mais baixas em climas áridos do que em áreas de boa pluviosidade, onde as forragens crescem mais abundantes. Se, porém, houver uma alimentação adequada, os animais irão se reproduzir e se desenvolver em qualquer região.

A produção de lã tende a ter maior importância nestes ambientes, uma vez que a lã de boa qualidade leva menos tempo para crescer, sendo mais lucrativa que a produção de leite. Um fazendeiro eficiente pode criar 10 ovelhas em um hectare de pastagem melhorada numa boa região, enquanto um outro, também eficiente, pode exigir 10 hectares de área nativa para cada ovelha, em regiões áridas. A lotação é determinada pela região e pela situação.

l Alimentos armazenados – As ovelhas são, geralmente, tratadas com alimentos armazenados e colhidos, quando a forragem fresca não está disponível. Exemplos destes alimentos são: feno, silagem, culturas de subprodutos. Feno é a gramínea que foi cortada e tratada para o uso como alimento para o rebanho. Silagem é uma forragem verde que foi fermentada e armazenada em um silo, ou outro sistema que mantém o ar fora. Silagem mofada pode causar Listeriose em ovinos. A silagem para ovinos é servida em pedaços bem menores do que para o gado.

l A suplementação com grãos – Grão é muitas vezes fornecido para ovinos com maiores necessidades nutricionais, como ovelhas prenhes durante a gestação tardia, ovelhas cuidando de dois ou mais cordeiros, e cordeiros com potencial genético para crescimento rápido. Os cereais são: milho, cevada, trigo e aveia.

Uma fonte de proteína, tal como farinha de soja ou farinha de semente de algodão, é geralmente adicionado à ração de cereais, juntamente com vitaminas e minerais para fazer uma ração 100% balanceada. Ração não balanceada pode levar a vários problemas de saúde.

Ovelhas adoram o sabor do grão e podem ficar doentes se comer rapidamente. O consumo precisa ser regulado, introduzido lentamente e aumentado gradualmente. Ruminantes devem sempre ter algum volumoso em suas dietas – pelo menos 0,45 kg por dia para ovinos. Produtores em muitas partes do mundo não podem se dar ao luxo de alimentar o rebanho com grãos. Em algumas regiões e algumas situações os grãos podem ser mais lucrativos do que a forragem.

l Subprodutos – Subprodutos da produção agrícola e alimentos processados também podem ser fornecidos para ovinos. Exemplos incluem casca de soja, casca de amendoim e caroço de algodão. O milho está se tornando um alimento menos popular para ovelhas e outros rebanhos, pois está sendo usado na produção de etanol.

l Benefícios da pastagem – Manejo, ou preservação de pastagem é bom método para o meio ambiente. Uma área coberta de grama é a melhor proteção contra a erosão do solo e o escoamento de água. As pastagens são um grande reservatório de carbono orgânico.

As pastagens, gerenciadas adequadamente, ajudam a reduzir os níveis atmosféricos de dióxido de carbono, o que pode reduzir o acúmulo de gases do efeito estufa.

l O domínio público – Algumas pessoas acreditam que não se deve permitir que ovelhas (ou qualquer outro rebanho) pastem em grama ou praças públicas. Muita gente ainda diz que “depois da ovelha só resta o deserto”. A pastagem exagerada do passado foi causada por falta de gestão e não deve ser uma razão para ignorar os benefícios potenciais da pastagem.

A pesquisa mostra que o pastejo leve ou moderado é geralmente mais vantajoso do que o pastejo livre em qualquer pastagem.

l Taxas controversas de pastejo – Os agricultores e pecuaristas, em terras norte-americanas, pagam uma taxa para seu rebanho pastar no local que pertence ao governo federal. A taxa é de U$1,35 por unidade de animal ao mês, conforme mostra a Tabela 1 (Na tabela, “AUM” é a unidade de consumo de forragem necessária para alimentar uma vaca e seu bezerro, um cavalo, ou cinco ovinos e caprinos – durante um mês).

Algumas pessoas pensam que as taxas de pastagem são muito baixas, pois estão bem abaixo do custo de locação de terrenos privados. O que elas não percebem é que, geralmente, usam-se mais hectares de terras públicas para o rebanho pastar.

Fazendeiros têm custos mais elevados com o uso de terras públicas do que privadas, pois acabam sendo forçados a fazer melhorias nos pastos do governo (construção e reparação de cercas, desenvolvimento de fontes de água, etc.). Têm, também, de partilhar o terreno com outros fatores como: mineração, florestal, fauna, caça e recreio.

l A pastagem exagerada – Ovelhas podem pastar muito perto do chão e um lote muito grande pode provocar um rebaixamento na pastagem. É necessário ter um bom planejamento para não deixar animais com fome, ou degradação de pastagem. Pastejo exagerado pode levar à perda de vegetação e erosão do solo. Nada como as boas práticas de pastagem.

l Comedoras de plantas daninhas da Natureza – Ovelhas e cabras têm sido muito utilizadas para controlar a vegetação indesejada. Seu uso tem aumentado nos últimos anos, pois os animais são uma ferramenta barata para fazer o controle biológico em áreas ambientalmente sensíveis. Ovelhas pastam principalmente em plantas hérbaceas (plantas com flor) e em gramíneas. Já as cabras preferem arbustos e outros materiais vegetais lenhosos.

l Ervas daninhas – Ovelhas estão sendo usadas atualmente em planaltos e regiões entre as montanhas, para controlar ervas daninhas e invasoras. Muitas ervas daninhas não podem ser controladas por meio de produtos químicos, práticas mecânicas ou culturais, devido ao elevado custo, ou à sua ineficácia relativa. Um exemplo é a eufórbia (Euphorbia esula), uma erva daninha, europeia e asiática que é tão perigosa a ponto de logo transformar extensas áreas em monocultura às avessas, ou seja, prejudicial.

Outra erva daninha perigosa no Ocidente é a Centáurea (Centaurea maculosa). Esta erva daninha invade faixas nativas e ameaça até mesmo áreas intocadas, como parques nacionais. As ovelhas são prontamente liberadas para pastejos em áreas das invasoras, sendo já encaradas como a mais importante ferramenta para combater ervas daninhas. A vantagem é que o lote de ovelhas (ou carneiros) pode seguir, depois, para o abate, garantindo lucro ao usuário.

As ovelhas são utilizadas para consumir a Kudzu (Pueraria montana), uma videira que substitui completamente toda a vegetação que cresce no Sudeste dos Estados Unidos. Até a perigosa Larkspur (Delphinium sp.), venenosa para o gado, é enfrentada pelas ovelhas. que, mesmo não apreciando, conseguem tolerar 3 a 4 vezes mais esta planta nociva, sendo utilizado o controle destas ervas em pastagens.

l Prevenção de incêndios – As ovelhas estão sendo usadas em muitos lugares para reduzir a ameaça de incêndio, como áreas onde a floresta interage com a comunidade urbana. As ovelhas são introduzidas para “rapar” a vegetação. Assim, cria-se um vácuo que irá impedir a combustão, constituindo uma barreira eficaz contra a propagação do incêndio.Este método de redução de incêndio é chamado de a criação de um “fuelbreak” (ruptura de combustão). O objetivo é reduzir a quantidade de combustão e altura da vegetação e criar uma barreira eficaz.

l Melhora na biodiversidade vegetal – Numerosos estudos têm mostrado como ovelhas e cabras, usadas sob condições prescritas, podem ajudar a aumentar a biodiversidade vegetal em faixas ocidentais. Sendo que as ovelhas preferem pastar e dormir em zonas de montanha, longe de regiões úmidas baixas. Assim, o gerenciamento do passtejo é facilitado, preservando as matas ciliares, bacias hidrográficas, áreas de drenagem, etc. Elas são mais fáceis de gerir em áreas de pastagem, onde questões críticas ciliares e bacias hidrográficas são uma preocupação. As ovelhas são uma ferramenta a favor do meio ambiente, quando bem utilizadas.

O nível de gramíneas perenes dentro da comunidade de plantas tende a aumentar, quando as ovelhas pastam na mesma área durante vários anos. Isso porque o pastejo melhora a infiltração de água e reduz a erosão. Planejamento do pastejo é uma grande arma a favor do meio ambiente.

l Melhora no habitat dos animais selvagens – O manejo de pastagem com ovelhas tem aumentado o habitat dos animais selvagens. De fato, o pastejo em momentos corretos, garante que a qualidade e quantidade de certos tipos de vegetação proliferem, ajudando na recomposição do habitat dos animais selvagens.

l As plantações de árvores – Produtores de ovinos no Canadá estão sendo pagos em até US$ 35 por ovelha que eles colocam para pastar em regiões de pastos com árvores recém-plantadas. Este método de pastejo prescrito aumenta a viabilidade das novas mudas de árvores, reduzindo a competição entre gramíneas, herbáceas e ervas daninhas, quanto à água, nutrientes do solo e a luz solar. Ovelhas “treinadas” são usadas também para pastar em vinhedos. O uso de ovelhas, ou cabras, em pomares vem conquistando muitos adeptos no mundo inteiro.

l Pastoreio sob linhas de alta tensão – As empresas de energia estão “contratando” rebanhos de ovinos (e caprinos) para mantê-los pastando sob as linhas de alta tensão, reduzindo a chance de uma faísca começar um incêndio e provocar quebra no fornecimento de energia para as cidades. Embaixo das linhas elétricas cabem milhões de ovelhas.

l Fundo-de-pasto – O pastoreio extensivo de fundo-de-pasto em áreas comuns na Grã-Bretanha é um fenômeno único na Europa, permitindo que o rebanho seja mantido em áreas não cercadas sem pastoreio constante. É muito comum nos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento. Cada rebanho passa a ter seu próprio território e é auto-limitado para essa área. A quantidade ideal é considerada “um peso”. Assim, cada área tem seu “peso”, ou sua quantidade certa de animais que pode ser suportada. Extensas áreas são divididas em numerosos “pesos”; cada rebanho conhece sua própria área e retorna a ela depois da parição. O sistema de “fundo-de-pasto” (Hefted sheep) é muito importante para manter o ambiente original, ou selvagem. Devido ao surto de doenças, esse sistema quase foi abolido na Europa a partir do ano 2000. O aumento populacional vai liquidando esse sistema, lentamente.

Revista O Berro n163