Após o registro de 334,7 mil cabeças ovinas abatidas em 2009, o volume de abates sob inspeção federal iniciou um processo sistemático de queda que perdura até o presente, de forma que o ano de 2014 fechou com um volume oficial de 95,8 mil cabeças (barras em azul, valores à esquerda) – o menor valor registrado nos últimos 10 anos, conforme o Gráfico 1.
Do total importado em 2014, cerca de 91,4% teve origem no Uruguai, enquanto o restante se dividiu entre Argentina, Chile e Nova Zelândia, os quais participaram com 5,0, 3,1 e 0,4 pontos percentuais, respectivamente.
O rebanho de cria do Uruguai encontra-se relativamente estabilizado desde 2010, porém, a produção de 2013 superou em 43,9% àquela de 2012, por meio do aumento no volume de abate em todas as categorias, particularmente, de ovelhas. Em 2013, o abate de ovelhas cresceu 114,8% em relação ao ano anterior e a categoria teve uma participação de 23,1% no volume total de abates, fortalecendo as baixas perspectivas de crescimento para o rebanho ovino uruguaio no médio prazo.
No ano agrícola de 2014, o Uruguai exportou 17,2 mil toneladas, das quais 52,8% foram direcionadas para o mercado brasileiro, 30,2% para a China e 10,6% para a União Europeia. Com o aumento da produção uruguaia, o montante embarcado para o Brasil tem crescido regularmente nos cinco últimos anos, apresentando uma variação positiva de quase 20% desde 2012.
Apesar dos embarques para o Brasil serem dominados por um único país, o destino das importações é diverso, como é possível observar no Gráfico 5.
Do total embarcado em 2014, quase 91% foi destinado aos Estados de Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul e São Paulo, seguidos por Pernambuco, Minas Gerais e Paraná, além de Rio de Janeiro, Ceará e Bahia (‘Outros’) com uma participação mais discreta.
Em 2015, pela primeira vez desde 2011, observa-se uma baixa no volume das importações com redução de 25,4% nos embarques entre janeiro e maio (Gráfico 6). Os motivos envolvem o fechamento de algumas importantes operações industriais no Cone Sul.
Como o dólar fechou 2014 em uma média de R$ 2,345, os preços dos produtos importados, conforme a Tabela 1 abaixo, permaneceram atrativos para os setores de processamento e varejo, considerando os preços ao produtor e ao consumidor praticados no mercado interno, e as boas margens trabalhadas por esses elos.
No entanto, com a desvalorização do real desde o final de 2014 e o dólar já operando em maio de 2015 a R$ 3,04, a viabilidade das importações tende a ficar mais comprometida, sobretudo, em um cenário doméstico de crescente aumento nos custos de logística e de armazenamento, e cujas perspectivas do mercado para o final do ano envolvem um dólar cotado a R$ 3,20.
Em 2014, apesar da redução na produção doméstica, a disponibilidade interna formal (Gráfico 7) cresceu quase 5,0% em relação a 2013, alavancada pelas importações e alcançando o patamar das 11,4 mil toneladas.
Nesse contexto, a participação dos produtos importados no mercado interno atingiu 86% em 2014, reforçando a dependência da cadeia produtiva brasileira do mercado externo, sobretudo a nível de varejo.
Com a retração tanto na produção doméstica quanto nas importações, as perspectivas para 2015 são de queda na oferta de carne ovina no mercado interno e, consequentemente, de alta nas cotações do cordeiro, o que tende a afetar, em última instância, o consumo.
A demanda firme do mercado manteve os preços nominais do cordeiro (em R$/kg carcaça) aquecidos em 2014, com os mesmos apresentando altas de 4,8% nas praças do Rio Grande do Sul e São Paulo, e de 11,4% na Bahia, como demonstrado do Gráfico 8.
Com isso, as cotações encerraram o ano com médias recordes de R$ 9,04 no Rio Grande, R$ 10,41 na Bahia e R$ 12,29 em São Paulo, registrando variações de 50,1, 123,8 e quase 51%, nas respectivas praças, ao longo dos períodos analisados.
Por sua vez, os preços deflacionados com base no IGP-DI (Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna, da FGV) apresentaram uma tendência baixista a partir de 2011 e contabilizaram retrações de 0,6 e 0,7 pontos percentuais, no Rio Grande do Sul e em São Paulo, respectivamente. Por outro lado, na Bahia, o cordeiro não sofreu com o efeito da inflação, sustentando uma valorização real de 5,5% nas cotações, conforme o Gráfico 9.
No entanto, como as perspectivas atuais do mercado para o IGP-DI em 2015 recaem sobre um valor acumulado de 7,07%, é possível que a valorização nominal (Gráfico 10) que está ocorrendo desde o início do ano seja afetada pela inflação crescente.
Entre o período de janeiro a maio desse ano, os preços nominais do cordeiro apresentaram uma variação positiva de 12,8, 7,0 e 25,7 pontos percentuais com fechamento em médias de R$ 9,95 no Rio Grande do Sul, R$ 11,01 na Bahia e R$ 14,50 em São Paulo, respectivamente, de acordo com o Gráfico 10.
Dessa forma, o preço nominal do cordeiro tem mantido um longo ciclo de alta com as cotações atingindo valores médios recordes nas principais praças do país, onde, em centros importantes de consumo, como São Paulo e Rio Grande, por exemplo, o aumento nos preços tem sido acima da inflação do período. Assim, em relação aos preços, o setor produtivo está em ótima fase e esse movimento deve se manter durante todo o ano, em função da menor disponibilidade formal de carne ovina no mercado interno como resultado da queda na produção doméstica e nas importações.
Por outro lado, no atual cenário econômico de recessão, onde as atuais perspectivas do mercado apontam para um IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) próximo de 9%, taxa de juros (Selic) de 14% a.a., dólar a R$ 3,10 e atividade econômica (Produto Interno Bruto) em retração de 1,35 pontos percentuais, a situação do consumo formal e, concomitantemente, dos setores varejista e industrial, torna-se preocupante.
Embora os estudos avaliando o perfil do consumidor de carne ovina demonstrem que 60 a 70% possuem renda familiar cerca de 2x maior ao rendimento real habitual médio do brasileiro (R$ 2.117,10, segundo IBGE), o desempenho da cadeia produtiva ovina deve acarretar prejuízos em 2015, tanto pela menor oferta de produto quanto pela condição financeira da indústria e do consumidor final, pressionados por dívidas, tributos, crédito restrito, inflação crescente e incerteza.
Nesta conjuntura, o produtor deve ter prudência em relação ao mercado e investir com coerência para se beneficiar dos preços vigentes.
Fontes consultadas
BACEN. Banco Central do Brasil.
EMATER-RS. Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural.
FGV. Fundação Getúlio Vargas.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
INAC. Instituto Nacional de Carnes do Uruguai.
MAGP. Ministerio de Agricultura, Ganadéria y Pesca da Argentina.
MAPA. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
MDIC. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
SEAGRI-BA. Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária do Estado da Bahia.
UNICETEX-USP. Centro de Inovação Tecológica e Extensão Universitária da Universidade de São Paulo.